quarta-feira, 22 de março de 2023

anoiteci

anoiteci com uma vontade danada de viver. 


amanhã quero caminhar na praia antes da terapia - às 9h; fazer as unhas; passar no trabalho e corrigir provas; comprar protetor e condicionador e hidratante e o sabonete para o rosto; almoçar com gente fina elegante sincera (e me reconhecer nestes adjetivos); ver a vó - hoje ela pediu para falar comigo por vídeo, tão linda; terminar de ler o livro que comprei pro amigo; fazer ioga, em casa mesmo (ou pagar mais um mês de academia); passar aquele jaleco; dividir palavras e tempos e espaços; trocar a roupa de cama. 


amanhã é sempre um novo dia. e, hoje, eu anoiteci com uma vontade danada de viver.

sábado, 11 de março de 2023

As Horas

anos depois, Clarissa re-assiste ao filme.


as histórias se cruzando. a temporalidade não linear. a fotografia. as protagonistas femininas. toda a ficha técnica. “não se lembrar de quase nada às vezes é uma benção”, pensou enquanto admirava (e se surpreendia com) a história, desfilando pela tela olhares bem captados e diálogos bem escritos. um enredo cheio de adjetivos ligados à dureza: pesado, cansado, denso, choroso, sofrido, profundo (quis não escrever este último, para que ninguém fizesse referência à VW. não pôde, no entanto). embora tão lindo! (embora sem nenhuma personagem negra… “da primeira vez, não me lembro de ter feito essa observação, nem mentalmente. parece que amadureci… ou será que apenas tomei consciência sobre privilégios e racismos?” quem souber me salva!). o peito seguia apertado e a respiração difícil. 


“um bom filme para este hoje”, sussurrou irônica.

terça-feira, 7 de março de 2023

do pesar

em algum lugar do tempo há de haver respostas. é preciso que se descubra as razões por que 
ela se perdeu em silêncios indissolúveis. e deles não há mais como fugir.
Ana se sabe. 

terça-feira, 30 de agosto de 2022

assisti, hoje, a duas cenas. as personagens são crianças de 6º ano. relato:


cena 1. após entrega de AV, um aluno notou que eu havia aumentado erroneamente sua nota. contrariado, claro!, devolveu a prova para que fosse corrigida. agradeci, aplaudi, fiz que todos soubessem. nestes tempos sombrios, especialmente, gestos honestos me inundam. 


cena 2. três alunos se atrasaram para minha aula após o recreio. na escola em que trabalho, existe uma regra de ocorrência para essa situação. entraram esbaforidos - mas os coloquei para fora. coordenação - conversa - argumentos. tempinho depois, fui também eu participar do papo. retomei as regras, bem brava: eles já as conhecem - não podem se atrasar. pediram a palavra, queriam explicar: estavam ajudando um amigo com crise asmática. não me ganharam - um adulto precisaria saber da situação. “vocês são médicos?” receberiam a ficha, como já aconteceu com outros colegas. mas… chegou o amigo. pediu para falar. “tia, não foi culpa deles. eles estavam comigo. são meus amigos. eu estava mal. eles falavam assim: ‘respira, calma. vai ficar tudo bem’. e quando a gente ajuda um amigo, a gente perde a noção do tempo. só quer ver o amigo melhor. e eles me ajudaram. e eu fiquei bem”. 


e a professora chorou. 


e os três alunos voltaram para a aula. e aprendemos que escola extrapola livros e apostilas. 


e a professora teve, outra vez, certeza de que a sala de aula é onde (ainda) quer estar. “viver me deixa tão impressionada”.

sexta-feira, 8 de julho de 2022

carta para Joaquim - 2 anos

 Carta para Joaquim


Jujuca,

o dia amanheceu quase sem sol. cinza, com muitas nuvens. talvez seja reflexo destes meus olhos tão cansados… mas a titia pôde ver o mar - e, só de sabê-lo, sinto que podemos transbordar mundos. ah! choveu também nesta manhã dos seus 2 anos. 

2 anos, Juca! você cresce tão rapidamente que mal consigo acompanhar: ja não sou mais a Bá - sou a “titia Beta” (e só a deusa sabe como é bom ouvir sua vozinha me chamando assim). todos os dias, sua mamãe relata palavras, carinhas, gestos, brincadeiras, gracinhas, imitações incontáveis. você é carinhoso, espoleta, adora brincar com a Fridinha e deixa os adultos à sua volta muito babões. 

este ano, pudemos nos ver com mais frequência. embora aqueles tempos difíceis ainda não tenham ido embora por completo, todes nós, do lado de cá das trincheiras da vida, tomamos vacina - e isso permitiu que eu pudesse acompanhar um pouquinho mais de perto seu crescimento. a gente brinca de falar as cores dos carros, de escrever nos cadernos, de contar histórias e cantar músicas do Bita, de escorregar no parquinho, de dançar na sala com qualquer objeto com o qual possamos fazer um som. e essas horas são eternas - ainda que passem tão rapidamente…

hoje você faz aniversário, e eu repito meus desejos do ano anterior: que você continue crescendo com saúde. Amor tem de sobra, não precisa se preocupar. tem também, meu pequeno, a promessa de que estarei com você sempre - mesmo que com o Mar entre nós; de que cuidarei de você; de que, com esperanças renovadas com a sua vida, lutarei ainda mais para que o mundo seja gentil e bom e mais justo e bonito. para você e todas as outras crianças deste nosso país e de todos os países por onde seus pés andarem.

amo você! e vou sentir sua falta... 

você construiu castelos de lindas memórias em mim - tão curta vida para tão longas memórias (parafraseei um poeta nascido lá pertinho de onde você em breve estará).

parabéns, Joaquim! vida longa, cheia de saúde e descobertas. seja quem você quiser! eu estarei por aqui, por aí, com você. 

com amor!,

Titia Beta ♥️

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Amores Perros

Maru em muito breve é uma quarentona. 


Mas hoje é segunda-feira e ela não trabalhou (não “in loco”, já que, enquanto descansa, carrega pedras - sua mãe dizia sempre). Abriu uma garrafa de vinho sozinha (!) - ainda que a rolha insista em não sair do saca-rolha de dois braços. Tomou quase toda, sozinha - ainda que com água e um chocolate amargo porque hoje ainda é segunda-feira.


Achou por acaso (acaso?) o filme que procurava há anos. calhou de estar sozinha. sem pendências do trabalho. garrafa de vinho aberta. 


Assistira a “Amores Perros” quando tinha vinte e poucos anos. bem poucos. Era um VHS. Pirateado. Gravado sabe-se lá como pelo ex-namorado. Legenda em português de Portugal. Não lembrava de quase nada, nestes quase quarenta.


Bom filme. Bem ao seu sabor. Vai recomendá-lo ao marido e à irmã que logo vai embora. À amiga que divide gostos artísticos e à comadre. Esses cabem na história e poderão dividi-la em entendimentos. Esses são seu clube. 


Pensou que talvez tivesse descoberto por que o ex gostava de “Amores Perros” - ele tinha um cão bravo. bem bravo, preto. um pitbull talvez? (como era mesmo o nome?… Ozzy! Claro! Como esquecer? O cantor preferido do marido, o cão do ex…) e era sobrinho do marido da mãe - igual ao filme. Muito se explica. Freud explica, diriam.


Maru só explica sua vontade de ir embora (explica?). Hoje, segunda-feira, Maru queria não pensar que seu trabalho não a deixa ver os dias correrem, nem o sol alaranjar o céu, embora pegue sua contas - e o chocolate, e o filme, e até o vinho que bebeu quase todo; queria não pensar que amanhã o dia de trabalho começa (muito) cedo e não tem hora pra acabar; queria não pensar nas eleições presidenciais e na campanha estranha que vem fazendo seu candidato, embora vote nele sempre e sempre; queria não pensar que está há anos afastada do que pode ser ela mesma enquanto o marido estuda e se apaixona pelo que faz (como um dia também ela se apaixonou) e pela vida que tem; queria não pensar em ir embora, como estão em movimento forte as suas (queria?).


a vida é um amontoado de amontoados. aqui e por lá e por aí… Maru tem guias e guianças vários (leu essa palavra hoje. achou bem forte). Maru segue caminhos que ela traça e trava. 


“Também somos o que perdemos” e Maru não quer perder mais nada. 


Maru é filha do pai guerrilheiro no filme. 


Maru, aqui, sou eu.


quinta-feira, 8 de julho de 2021

carta para Joaquim - 1 ano

 Carta para Joaquim


Jujuca, 

hoje eu acordei bem cedo, e vi o sol nascer no mar. tinha um restinho de Lua, bem fininho, Lua minguante. o mar, o sol e a lua. tão lindo, Juca! tão cedinho… era um presente. 

assim como foi para nós, há um ano - quando sua mãe lhe pariu e vocês nasceram. 

você chegou em um ano muito difícil. nós não pudemos estar pertinho da mamãe porque era perigoso para todos. mas estávamos atentos a cada passo nesse novo caminhar. e, Juca… quando você chegou! foi uma explosão! você chegou numa noite bem fria, como hoje, e me fez brotar em lágrimas - de orgulho da sua mamãe (ele foi forte à beça, viu?), de alegria! (tinha nascido o menino!), de esperança (eu sinto renovar minhas esperanças sempre que uma criança nos é confiada). 

sua mamãe me ligou assim que pôde. ela também chorava. e muito! e eu só conseguia dizer a ela: “você é foda!”. e eu fui correndo lhe ver. 

mas o mundo passava por momentos difíceis, lembra?! eu não pude abraçar a vovó, não pude abraçar a mamãe… nós precisamos aprender, então, que carinho e Amor transbordam pelos olhos. e como nós nos amamos naquele 08/07! nosso pequeno canceriano, nosso patriarcadinho estava aqui conosco. 

o vovô disse que você trouxe sorte - o time dele venceu o rival e foi campeão depois de muito tempo. 

hoje, Juca Piluca, um ano depois desse dia inesquecível, no seu primeiro aniversário, a titia Bá deseja que você continue crescendo com saúde. Amor tem de sobra, não precisa se preocupar. tem também, meu pequeno, a promessa de que estarei com você sempre; de que cuidarei de você; de que, com esperanças renovadas com a sua vinda, lutarei ainda mais para que o mundo seja gentil e bom e mais justo e bonito. para você e todas as outras crianças deste nosso país. 

vida longa, Joaquim! parabéns! seja quem você quiser! eu amo você, bebê!

Tia Beta ♥️

sexta-feira, 27 de março de 2020

abrigo

Hoje li um pequeno texto sobre "morar".

Eu sou meu próprio lar. mas "minha casa é meu reino". Desde sempre. O colo também o é. do meu pai. do meu marido. das minhas irmãs. o meu próprio. é onde me seguro e me navego.


"âncora,

vela...

qual me leva?

qual me prende?". 


Minha vontade era escrever bem bonito. bem forte. profundo. Não me alcanço.


Não alcanço, lá na profundeza onde já admiti não estar, a palavra certa. a hora certa. a porta aberta do verbo.


Mas a rotina me amplia. Essa, de escrever diariamente [nesta Quarentena].


Quem sabe eu não fique grande quando tudo isso acabar?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Women, Fire, and Dangerous Things

Sobre minha lembrança de antigas aulas na Letras: "Mulheres, Fogo e coisas perigosas" - título do livro de George Lakoff.

Segundo José Roberto da Silva e Maria Aparecida Rufino, nesse livro, "Lakoff apresenta instâncias que pertencem a uma mesma categoria em Dyirbal (lenda aborígene da Austrália). O que chama atenção é que coisas tão diferentes podem formar parte de uma mesma categorização."



"Dyirbal é uma língua de Aborígenes da Austrália que faz parte do grupo de linguagens Pama-Nyungan falada hoje (dados de 2001) por tão somente 5 (cinco) pessoas ao Noroeste de Queensland, todas acima dos 60 anos de idade.


(...)


A característica mais notável e particular do idioma Dyirbal é seu sistema de Gêneros Gramaticais. (...)


Em Dyrbal Tradicional os gêneros são quatro, conforme segue:


1 - Seres vivos, Homens (sexo masculino), seres Mitológicos.

2 - Mulheres, Água, Fogo e correlatos, Violência, Criaturas e Fenômenos perigosos.

3 - Vegetais comestíveis e Frutas.

4 - Demais substantivos, conceitos, etc."



—————



Mulher - Fogo - Coisas Perigosas…


Creio que podemos (mesmo!) fazer parte da mesma categorização!


Mas a correlação entre mulheres e coisas perigosas vai muito além do fogo!!! mulher faz parte do mesmo gênero Dyrbal que to-das as criaturas e fenômenos perigosos.


Diferenças? Semelhanças?





domingo, 25 de julho de 2010

Agora, cá me encontro:

Tempo, tempo, mano velho,
falta um tanto ainda, eu sei
pra você correr macio...

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Há um tempo daqui esquecida (problemas com senhas e outros causos), eis que agora cá me econtro (e/ou me perco), oscilando entre palavras e longos perídos de dedos inertes: Intervalos de Silêncio.

Até lá!